Viver Depressa

Existirão sempre "ses". Não trazemos manual de instrucções ànascença, nem tão pouco nos ensinam e preparam para a tragédia, para o choque, para o desaparecer dos entes queridos num ápice, numa fracção de segundos, como quando um semáforo passa de amarelo para encarnado (e ainda ontem era Natal!). Li este livro muito rapidamente, em três, quatro dias; emprestei-o logo de seguida e voltei a adquirir outro para oferecer! Recomendo vivamente a sua leitura, sem expectativas, só com a vontade genuína de (tentar!) perceber como e porque somos tão vulneráveis perante tudo o que se nos acontece, reconhecendo que nada controlamos!

Neste livro, Brigitte Giraud disseca o que antecedeu o evento que mudaria e marcaria a sua vida. Disseca o seu luto. Um luto repleto de Se's,(re)vivido com o fim próximo da casa que simboliza o início do fim de uma vida a dois. Creio ser impossível passar por este livro sem sermos engolidos por uma imensa empatia, colocando-nos na posição daquela que (d)escreve a perda trágica do seu companheiro de vida. Até enquanto leitora, se em partes poderia estar a ter uma visão mais crítica, dei por mim a refletir: "Se fosse comigo? Haveria lógica na forma como relataria e tentaria fazer sentido de um evento que tira sentido a uma vida projetada?". A incredulidade de tamanho evento acaba por justificar qualquer inconsistência que pudesse assinalar à narrativa de Giraud. O rótulo de Prémio Goncourt (2022)incitou uma imensa curiosidade sobre o livro. Algumas reviews também. Uma leitura que, a espaços, me remeteu para o estilo biográfico de Annie Ernaux (ainda que sem a franqueza desconcertante com a qual Ernaux me conquistou),e que me deixou com vontade de ler mais da obra desta autora.

Um livro simplesmente maravilhoso! Muito especial.